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Os adolescentes multifunções
Aliás, nada lhes resiste.
Eu acho graça - reconheço - aos “adolescentes multifunções”. Aqueles que só conseguem estudar enquanto ouvem música. Com “phones”, de preferência, para que a qualidade do som “bata” um pouco melhor na cabeça. E que colocam o telemóvel numa espécie de espreguiçadeira, bem ao lado do manual sobre o qual se debruçam, e saltitam - vigilantes - entre um parágrafo e outro, e uma mensagem acabada de chegar (que, entretanto, se intrometeu entre o livro e o seu olhar). E param e respondem-lhe. E retomam o estudo. E param “por um minuto” mais, só para darem uma espreitadela no WhatsApp. E sublinham, logo a seguir, cheios de motivação e com primor, num tom berrante ou fluorescente, uma próxima frase. E param. Porque alguém através do Instagram, acaba de partilhar uma story divertida. E, à cautela, carregam no estudo e nos sublinhados e vão, logo a seguir, dos sublinhados aos resumos - geralmente, longos e minuciosos - para que não haja como um qualquer pormenor daquilo que se “estudou” lhes possa fugir. E param. Porque alguém lhes manda um toque e mensagem. E liga, a seguir, e cochicha, por breves segundos (porque aqui não há cedências quando se trabalha...), sobre uma coscuvilhice “fundamental” para a formação duma pessoa. E, depois de, primorosamente, elaborado - a duas cores! - sublinham quase todo o resumo. Mas, param, logo depois. Para trocarem de música. Ou para “darem um saltinho” até ao YouTube. Riem-se, como não podia deixar de ser, com uns tipos que “são uns palhaços”. Claro! Mas estudar cansa, não há como negá-lo. E param. Para lanchar. E para reporem a glicose e para respirarem. E para darem ao oxigénio um novo furor que ponha a cabeça a trabalhar. No entretanto, passam os dedos pelo telefone e sintonizam-se com uma série. E, ficam “agarrados” a ela. Mas vêem “só” um episódio. Só um. E os primeiros segundos aquele que vem a seguir, vá lá, depois da respectiva contagem decrescente, evidentemente. E, quando dão conta - upps!.... - reparam que não só já viram o segundo como, sem que percebam porque, já vão a meio do terceiro. Mas porque uma pessoa é de partilhar, trocam “duas mensagens” sobre um dos protagonistas ou sobre a reviravolta, imprevisível até para os corações mais respaldados, na história, que os torna vibrantes e “remexidos”, por dentro. E voltam ao resumo. E trincam o pão que, entretanto, resistiu aos últimos desenvolvimentos da série, até porque o lanche tem um ritual que faz com que não consigam estar atentos a uma história, beber um gole de leite, trincar e mastigar. Tudo, mas tudo ao mesmo tempo. E olham para o relógio e (Oh!) Sao horas de ir ao ginásio. Deixam as coisas desarrumadas e o pão que sobrou, capitulado, junto ao copo, vazio, no chão, primorosamente aconchegado ao pé da mesa da sala. Para arrumar, evidentemente. Mas só mais tarde. Depois do Pilates. Entretanto, entre o Snapchat, o Spotify e mais meia dúzia de músicas, volta-se a casa. Fresco! E tem-se a mãe à espera, esganiçada, porque, entretanto, alguém “chutou para golo” na caneca do leite e o gato comeu o pão. E quando uma tarde de trabalho parecia perfeita e tinha, até, rendido, uma pessoa acaba a fantasiar que há mais menopausas precoces do que pode parecer. Entretanto, porque é mesmo assim, uma pessoa barrica-se no quarto. E, quando chega a hora do jantar, o clima já não é “só paz e amor”. E, para estragar tudo, há sempre um dos “suspeitos” do costume que, qual ingénuo, pergunta: “Olha lá, tu estudaste?...” E, quando chega a altura de se pespegar o resumo debaixo do nariz de um incauto dos pais, uma pessoa quase desfalece com tanta ira. E só murmura. E tudo fica entre um “murro no estômago” e o indigesto. A, seguir, sente-se quase obrigada, porque se “toca”, a um “recuo estratégico” até ao quarto (sem se passar, sequer, pelo sofá). E o “power” duma tarde de estudo quase parece perder todo o gás. Só por isso, claro - o que mais podia ser?... - quase como “uma coisa má” passa pela cabeça, aquilo que quase se podia jurar que estava aprendido parece “varrer-se” da cabeça e zás: quem é que sente motivação para o estudo depois duma coisa destas?... E assim, quando tudo dava a entender que a tarde de estudo tinha servido, também, para calar “algumas pessoas” e tinha sido para valer, chega-se, de uma maneira “aziada” e muito pouco na “descontra”, a um jeito meio desconsolado de terminar o dia. A vida, com tanto estudo - há quem não creia... - é muito cansativa!
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