terça-feira, 24 de abril de 2018

Entrevista a Daniel Sampaio: "“A Internet é uma oportunidade de proximidade e não de conflito” entre pais e filhos"

RUI GAUDÊNCIO

Artigo de Rita Marques Costa para o Jornal Público, em 21 de abril de 2018.

Drogas, álcool e sexualidade continuam a ser questões que marcam a adolescência. Mas agora também se vivem na Internet, essencialmente através do telemóvel. No livro Do telemóvel para o mundo, Daniel Sampaio oferece um guia prático sobre como os pais de adolescentes podem lidar com estas questões e utilizar a Internet como forma de aproximação e não de conflito.

Em Do Telemóvel para o Mundo — pais e adolescentes no tempo da Internet, Daniel Sampaio fala da Internet como “um ponto de encontro entre gerações”. Uma “coisa maravilhosa”.

No seu 27.º livro o psiquiatra propõe um guia prático sobre como lidar com adolescentes, num tempo em que o telemóvel passou a ser uma extensão deles próprios. Equilíbrio, confiança e afecto são palavras-chave. E faz questão de sublinhar: apesar das mudanças tecnológicas “os pais continuam a ser o mais importante de tudo”.


No livro sente necessidade de explicar com algum detalhe as principais redes sociais utilizadas pelos jovens. Além disso, sublinha que os pais precisam de melhorar a sua literacia digital. Os pais ainda não sabem o suficiente sobre a Internet onde os filhos navegam?

Estão longe de saber. Os pais sabem o que é o Facebook e o Instagram, mas não sabem como é que os filhos os utilizam. Evidentemente que para algumas pessoas aquela informação pode parecer excessiva, mas o que eu pretendi foi descrever a evolução, por exemplo, do Facebook, que é sobretudo utilizado para promover eventos e festas de anos, e muito pouco como rede social de comunicação. Enquanto o Instagram e o Whatsapp são muito mais utilizados para comunicar. A tónica do livro é que os pais devem conhecer e dialogar e não devem controlar, como alguns fazem, espiando o telemóvel ou colocando filtros.


Então como é que pode haver algum controlo por parte dos pais?

Defendo que desde o tempo da infância, os pais ajudem os filhos a utilizar a Internet, de modo a que eles possam interiorizar as regras desde muito cedo. Estou a falar dos quatro, cinco anos de idade. E que aos 10 anos, quando têm o telemóvel, exista novamente uma conversa sobre a utilização do telemóvel. O que é importante é que os pais estejam à vontade para poder perguntar "O que é que estás a colocar na Internet?", "O que estás a ver?", "Vamos falar".


Refere ao longo do livro a importância de que os pais preservem a privacidade dos filhos. Mas como é que podem "arrancar" alguma coisa dos jovens e adolescentes sem comprometer a sua privacidade?

Esse é o grande desafio da adolescência: promover a autonomia, sem perder o controlo. É um equilíbrio. Como é que se equilibra? Através da confiança. Se houver essa preocupação em falar e a partilha do que se passa na Internet e na escola, do que eles estão a sentir perante uma notícia na televisão... Se o clima familiar for de confiança, é mais fácil uma confidência. Por isso é que digo que a Internet é uma oportunidade de proximidade e não de conflito e separação como por vezes vejo em algumas famílias.


Que conhecimento sobre a Internet é que os pais devem passar às crianças quando, por vezes, eles próprios também não têm grande conhecimento?

Estamos a falar de tecnologias que já têm alguns anos. Tem havido alguma dificuldade das pessoas em perceberem o impacto das novas tecnologias. É importante dizer que a Internet é uma coisa maravilhosa. Por isso é que falo do telemóvel para o mundo, porque o telemóvel hoje abre as fronteiras de todo o mundo e permite contactar em todo o lado. Mas é preciso explicar que depende da forma como se utiliza. E é preciso explicar que é preciso usar com regras, com parcimónia, não invadir os tempos familiares essenciais — o pequeno-almoço, a partida para a escola, a chegada a casa, o jantar e deitar. Que as crianças e os adolescentes possam usar o telemóvel como uma coisa boa e que não seja uma fonte de conflito.


Mas também aponta que os jovens saem do Facebook porque os adultos estão lá.

Sim. Neste momento, o Facebook é abandonado pelos adolescentes porque é um território que foi apanhado pelos adultos. Eles querem sempre ter um território mais privado que seja seu. É bom que exista um território de comunicação privado entre os jovens, para que eles possam comunicar entre si, mas que também possam comunicar com os adultos.


O que muda na forma como os jovens passam pela adolescência agora que estão apetrechados com smartphones?

Com a Internet, de uma forma geral, é tudo muito diferente. Tínhamos um paradigma para compreender a adolescência que era família, grupo de amigos e escola. Víamos que um adolescente estava bem com os pais, tinha amigos e estava bem na escola, então estaria bem. Hoje em dia, isso continua a ser importante. Os pais continuam a ser o mais importante de tudo na adolescência. Os amigos são muito importantes na fase média da adolescência, entre os 15 e os 17 anos, mas surgiu agora esta comunicação em rede. É preciso perceber que isso se traduziu numa forma muito diferente de encarar o corpo adolescente, a sexualidade, a forma de falarem uns com os outros, foi tudo muito alterado. O livro é dedicado aos pais, que têm de saber cada vez mais sobre isso para poderem comunicar melhor. Eu fiz um capítulo só sobre a sexualidade porque encontro muitas dúvidas dos pais sobre a sexualidade dos filhos.


No campo da pornografia e da sexualidade, como é que a Internet torna estes temas ainda mais complexos?

Esse é um tema muito interessante que resolvi incluir no livro. No meu contacto com os jovens adolescentes, percebi que sobretudo os rapazes vêem muita pornografia porque é muito fácil de aceder. A grande questão da pornografia é que deve ser discutida. Para já, é uma indústria. Depois, há uma exploração do corpo da mulher. E ainda introduz uma dimensão que não corresponde à vida normal das pessoas. É um tema que se deve falar frontalmente e sobre o qual acho que eles estão desejosos de conversar.


Também fala da falta de educação sexual nas escolas. Isto ainda é um problema?

Fui coordenador do grupo de trabalho que deu origem à lei da educação sexual em 2009. Fomos nós que propusemos os programas de educação sexual que depois foram convertidos em lei. O que eu verifico nas escolas é que isso está reduzido ao mínimo. A uma hora ou duas por ano. E isso acho que faz imensa falta. As pessoas pensam que educação sexual é falar de sexo. Mas é sobretudo falar de educação e tem a ver principalmente com a ética na sexualidade. Com a relação rapaz/rapariga, com a homossexualidade, com o respeito entre as diferentes pessoas, com a contracepção, o conhecimento do corpo. Tem a ver com uma série de conteúdos adequados à idade que se deviam dar nas escolas. Para isso era preciso que os professores continuassem a preparação que na altura tiveram.


Aproximar pais e filhos em torno das novas tecnologias e daquilo a que chama a "pequena conversa" são dois aspectos que considera cruciais. O que impede que isto aconteça?

Acho que isso é sobretudo um problema dos pais. Porque os pais continuam com uma ideia de que é preciso falar muito a sério com os filhos sobre estes temas. Essa é uma ideia que eu acho que é do passado. Isso foi-me transmitido pelos jovens com quem trabalhei para este livro. Trabalhei com um grupo de quatro jovens, com quem fiz um debate de duas horas sobre todas estas questões. Todos eles - três rapazes e uma rapariga - me disseram que a conversa séria com os pais não resulta.


É aí que surge a “parentalidade construtiva”. Os pais ainda têm de aprender a ser construtivos?

Completamente. [Esse conceito] é uma coisa que resulta da investigação. O que se sabe hoje em dia é que o estilo parental é muito importante. Sabe-se que os pais que têm autoridade sem autoritarismo e ao mesmo tempo estão envolvidos afectivamente com os filhos, promovem uma adolescência mais saudável. Os pais que têm um grande autoritarismo e aqueles que são mais permissivos contribuem para uma adolescência com mais problemas. Essa eficácia parental tem muito a ver com o amor firme, mas ao mesmo tempo com o amor afectivo. É isso que se chama parentalidade construtiva.


Dá o exemplo de um pai que lhe coloca uma questão sobre partilhar um “charrinho” com o filho de 15 anos. Isto é muito perigoso?

É, porque é completamente diferente utilizar os derivados da cannabis num adulto e num adolescente. Nós podemos dizer que a cannabis na adolescência prejudica as tarefas da adolescência. Porque diminui a concentração e a atenção. Eles têm mais tendência a fracassar na escola. Aparecem uma série de conflitos familiares resultado do uso das drogas. A adolescência é mais problemática. Num adulto é completamente diferente. Um adulto já tem a sua vida feita e as repercussões são diferentes. Quando o chamado “pai camarada” faz isso com o filho ao lado, está a dizer que não tem importância nenhuma.


No livro faz questão de referir que a adolescência não é um período tão negro como muitos o pintam. 

Sim. Isso tem uma razão histórica. Durante muito tempo, a adolescência foi considerada uma espécie de doença. Quando se fala com muitos jovens verifica-se que é uma época boa, porque é de descoberta. É difícil para os pais. Na infância e na idade adulta dos filhos é mais fácil ser pai. Mas é preciso explicar que a grande maioria dos jovens a vive como um bom período.



Dicas para os pais de crianças e adolescentes na era do telemóvel

Dar um telemóvel: 
“Aos 10 anos, porque corresponde ao 5.º ano de escolaridade, em que têm menos tempo de aulas e ficam mais tempo sozinhos. O telemóvel pode ser útil.”

Explicar como funciona a Internet: 
“A explicação da Internet deve começar por volta dos quatro, cinco anos.”

Proibir o uso do telemóvel:
“Sobretudo à noite. O telemóvel não deve ser levado para o quarto de dormir e isso deve ser dito bem cedo. Para criar a regra. Depois, à hora das refeições.”

Permitir uma conta no Facebook: 
“Há uma regra deles [Facebook] que não é cumprida [quanto à idade mínima]. Eu diria 12, 13 anos, o início da adolescência. Mas com muitas regras.”

Regras a aplicar na utilização do Facebook: 
“Aquelas que as pessoas sabem mas não cumprem. Não dar dados de identificação, como o nome, a idade certa, ou a escola onde se anda, não colocar imagens privadas, a não ser mais tarde, e não contactar com estranhos dando dados pessoais.”

Que fotos dos jovens e crianças se devem partilhar nas redes sociais: 
“O direito à reserva da imagem é muito importante. Ter muito cuidado na infância. Deve haver uma grande cautela nisso.”

Que estratégia para conversar com os filhos:
“A mensagem é aproveitar pequenos momentos, seja no carro para a escola, no final de semana, quando vão tomar um café, a propósito de um programa de televisão... Aproveitar essa conversa que surge espontaneamente para poder transmitir alguns valores e algumas regras.”

Tire o tablet do seu filho e dê-lhe um instrumento musical!

Photo by Heidi Yanulis on Unsplash



Artigo do Portal Raízes em 24 de Abril de 2018.


Muitos pais, para calar os filhos e/ou para os manter sossegados, não hesita em dar-lhes um tablet ou um smartphone. Nada de mais errado, de acordo com as últimas descobertas. Álvaro Bilbao, neuropsicólogo espanhol, autor do livro El cerebro del niño explicado a los padres (O cérebro da criança explicado aos pais), diz que, se querem ter filhos (mais) inteligentes, têm que tirar o iPad e dar a eles um instrumento musical!

De acordo com este especialista as aulas de música estimulam a capacidade de raciocínio das crianças, mais do que a tecnologia. Segundo um estudo publicado na revista Psiquiatría Molecular, 50% da inteligência é determinada pelos genes mas os restantes 50% dependem dos estímulos que os mais pequenos recebem.

“Sem os pais, o potencial intelectual da criança não se desenvolve”, assegura Álvaro Bilbao.

A chave do desenvolvimento potencial do cérebro da criança está na sua relação com os pais. Ainda que a genética tenha um peso importante, sem essa presença não se materializará, assegura o especialista.

“Uma criança pode ter potencial genético para atingir 1,90 metros mas, se os pais não o alimentarem bem, nunca chegará lá”, exemplifica o neuropsicólogo, que garante que os 6 primeiros anos de vida são primordiais no processo.

Além de reforçar condutas positivas e de brincar mais com os filhos, no chão, se for caso, como recomenda Álvaro Bilbao, os pais devem promover a socialização em detrimento do isolamento, o que implica desligar a televisão à mesa, além de incentivar a criança a fazer esportes e a experimentar atividades.

“A criança deve sentir que tem pais que se preocupam com ela”, defende também o pediatra Maximino Fernández Pérez.


O que sugerem as últimas investigações internacionais

Estas são algumas das estratégias que os estudos e os especialistas defendem:

Estudar música
Um estudo da Universidade de Toronto, publicado na revista Psychological Science, relacionou o desenvolvimento cognitivo com a aprendizagem de música. Durante um ano, três grupos de crianças de seis anos estudaram, separadamente, canto, piano e expressão dramática. Os que aprenderam música revelaram padrões de inteligência maiores no final.


Não ver televisão
Há uns anos, estavam na moda os filmes de desenhos animados em DVD que aliavam figuras desenhadas à música clássica de compositores como Mozart e Beethoven. Muitos especialistas afirmavam que estimulavam a inteligência de bebês e crianças, uma teoria que muitos estudos internacionais desmentiram. A Associação Americana de Pediatria diz mesmo que as crianças com menos de 2 anos não devem ver televisão.

Evitar programa de desenvolvimento cerebral
Nos últimos anos, surgiram muitos jogos eletrônicos e aplicações móveis que asseguram que treinam o cérebro e estimulam a memória. A verdade é que não existe qualquer base científica que o comprove.

Ver filmes numa língua estrangeira
As crianças que veem filmes numa língua estrangeira tendem a adaptar-se mais facilmente a outros vocábulos e a outros sons. De acordo com um estudo europeu sobre competência linguística, levado a cabo pelo Ministerio de Educación, Cultura y Deporte de Espanha, os espanhóis têm dificuldade em compreender e em falar inglês porque, ao contrário dos portugueses, veem tudo dobrado.

Ler a duas vozes antes de ir para a cama
As histórias que os pais leem aos filhos para os adormecer devem ser lidas a duas vozes. O progenitor lê uma página e a criança lê a seguinte e por aí afora… Um estudo realizado no Canadá garante que este método permite melhorar a capacidade de aprendizagem dos mais pequenos.



quinta-feira, 19 de abril de 2018

12 coisas que deve apagar do seu Facebook

Photo by Rodion Kutsaev on Unsplash

Artigo publicado no site Dinheiro Vivo, em 17 de abril de 2018.


Pode nunca lhe ter passado pela cabeça publicar os dados do seu cartão de crédito, mas talvez não pense o mesmo em relação à sua data de nascimento.

Com o seu nome, a sua morada e com a sua data de nascimento, ter acesso à sua conta bancária e a outros dados pessoais torna-se mais fácil. E para receber centenas de mensagens de parabéns de mais outras centenas de amigos virtuais, com os quais possivelmente nunca falou, provavelmente não vale o risco. Pode nunca ter publicado uma fotografia do seu cartão de crédito no mural do Facebook, mas pode já ter divulgado uma imagem do seu bilhete de avião. Talvez não tenha pensado que o seu cartão de embarque tem um código de barras único, que pode ser utilizado para que retirar as informações pessoais que forneceu à companhia aérea.

Pode nunca ter publicado uma fotografia do seu cartão de crédito no mural do Facebook, mas pode já ter divulgado uma imagem do seu bilhete de avião. Talvez não tenha pensado que o seu cartão de embarque tem um código de barras único, que pode ser utilizado para que retirar as informações pessoais que forneceu à companhia aérea.

Com 2 mil milhões de utilizadores, o Facebook tem um enorme poder de influência e todos os cuidados são poucos quando se lida com algo tão poderoso. O recente escândalo que envolveu a Cambridge Analytica, que afetou mais de 50 milhões utilizadores, fez com que muitas pessoas questionassem o papel que o Facebook desempenha em suas vidas. Mas afinal, o que sabe a internet sobre si?

Leia aqui: “Seis factos surpreendentes que o Facebook sabe sobre si

Depois do movimento #DeleteFacebook que ganhou grande visibilidade, depois de vários famosos e marcas influentes terem apagado as suas contas do Facebook, muitas pessoas decidiram abandonar a rede social e outras estão agora mais preocupadas com questões de privacidade. Provavelmente, não está a pensar divulgar agora o seu endereço ou a localização da sua mais recente fotografia.

Assim, o portal Indy100 from Independent elaborou uma lista com as 12 coisas que qualquer utilizador deve eliminar do seu Facebook, com vista a preservar a sua intimidade e privacidade, bem como, principalmente a sua segurança. Eliminar grande parte das centenas, ou milhares, de amigos que tem no Facebook pode mesmo tornar a sua intereção social online mais saudável. 

Descubra o que não deve divulgar no seu Facebook, veja a fotogaleria.

Instagram é a pior rede social para a saúde mental dos jovens

Photo by Erik Lucatero on Unsplash


Artigo publicado no site Sapotek, em 10 de abril de 2018.

Esta é uma das conclusões da pesquisa #StatusofMind, que indica que a aplicação tem um impacto negativo na imagem que os utilizadores têm de si. No entanto é uma boa influência em termos de auto-expressão e auto-identidade.

Perto de 1.500 jovens entre os 14 e os 24 anos analisaram e classificaram de que forma as redes sociais como o YouTube, Snapchat, Twitter, Facebook e Instagram os influenciam em questões como a ansiedade e a solidão.

E se o YouTube obteve a classificação mais positiva, seguido do Twitter, o Instagram ficou no fundo da tabela. Segundo o relatório da Royal Society for Public Health (RSPH), "as plataformas que deveriam ajudar os jovens a conectarem-se podem estar, na realidade, a alimentar uma crise de saúde mental".

Shirley Cramer, uma das responsáveis da RSPH, afirma as redes sociais têm sido descritas como mais viciantes do que cigarros e álcool e, estando tão enraizada na vida dos jovens, já não é possível “ignorá-las quando se fala dos problemas de saúde mental das pessoas”.

Através das plataformas como o Instagram e o Snapchat é fácil que a perspetiva da realidade se torne distorcida e a má classificação destas duas plataformas estará relacionada com o facto de ambas estarem muito focadas na imagem dos utilizadores, gerando sentimentos de inadequação e ansiedade nos jovens.

A socialização por trás de um ecrã também pode isolar de uma forma única e, com a primeira geração de utilizadores de redes sociais a chegar agora à idade adulta, o estudo defende que é importante criar bases para “minimizar os possíveis danos e moldar um futuro digital que seja saudável e próspero”.

"Como profissionais de saúde, devemos fazer todos os esforços para entender as expressões, os léxicos e os termos da cultura jovem moderna para melhor nos ligarmos e percebermos os seus pensamentos e sentimentos”, recomenda o relatório.

Como lidar com esta nova geração "dependente" da tecnologia

Photo by lifesimply.rocks on Unsplash


Artigo escrito por Clara Soares para a revista Visão, em 8 de abril de 2018.

Duas psicólogas, especialistas em perturbações que afetam os adolescentes, falam das pressões excessivas e dos exageros da vida virtual. Não é à toa que a Organização Mundial de Saúde acabou de incluir o “vício de videojogos” na sua lista de doenças do foro psiquiátrico.


IVONE PATRÃO

A investigadora do ISPA – Instituto Universitário de Psicologia Aplicada e autora do livro Geração Cordão defende que os adultos devem falar com as crianças desde cedo sobre 
o uso da tecnologia

Os adolescentes passam demasiado tempo online ao ponto de isso lhes alterar o humor?

Há dez anos, comecei a receber na clínica jovens com indicação de comportamentos agressivos e alterações do sono, mas que nada tinham que ver com perturbação de hiperatividade e défice de atenção. Estavam ligados à dependência online. 
A dependência da tecnologia compromete a alimentação, o sono, o rendimento escolar, as relações com os outros. Numa pesquisa que fizemos com meio milhão de adolescentes que usa smartphone, 14% deles tiveram a cotação máxima em dependência da internet.

A vida virtual e o multitasking afetam o funcionamento 
do cérebro juvenil? 
Há diferenças de género?

Quem já tem outros fatores de risco para sintomas ansiosos e depressivos fica mais vulnerável. 
Os estudos na área da neurobiologia, com recurso a ressonâncias magnéticas, mostram que são ativadas as mesmas zonas cerebrais (da recompensa) nos utilizadores da internet e de videojogos. O excesso 
do seu uso limita o desenvolvimento 
e o treino das competências sociais 
e da autonomia. Uma investigação com 2 220 jovens, entre os 12 e os 30 anos, permitiu perceber que os rapazes tendem a ligar-se mais aos videojogos 
e as raparigas às redes sociais.

Os miúdos aprendem por imitação e seguem o modelo dos pais. Estes estão à altura?

Os jovens, com legitimidade, perguntam: “Então o meu pai não me deixa estar na internet e, à uma da manhã, põe um post no Facebook?” Chegam aos 16 anos sem nunca terem conversado sobre isto com os pais ou recebem respostas vagas como “podes estar, mas só um bocadinho” ou “já estás nisso há tempo demais”. 
Não são exemplos a seguir.

Os jovens podem ficar deprimidos pelo medo da comparação social 
na vida real. Como se lida com isto na vida virtual?

A pressão do grupo sempre existiu. 
A vida online amplia essa pressão, eles ficam 24 horas ligados, sem parar 
para refletir, como acontecia antes. Deixaram de ter time out. Assumo que a sintomatologia ansiosa e depressiva tem que ver com esta sobrecarga. Aconselho os pais a promoverem momentos de encontro. Definam regras, como o não usar ao jantar, sem exceções, seja o jogo ou o email de trabalho a enviar. Mas falem uns com os outros!


TERESA LOBATO FARIA

A especialista lembra que os jovens precisam de se sentirem compreendidos e aceites pelos adultos, sem pressões excessivas nem julgamentos. E deixa pistas para os pais e os professores

Porque se agravam 
os sintomas ansiosos e depressivos 
na adolescência?

Essa é a altura da vida em que os jovens começam a questionar e a tomar decisões, a imitar o que fazem os amigos. 
É também nessa altura que surgem atitudes de isolamento ou de rebeldia. Há também a questão genética, o bullying, a rejeição do grupo e o stress crónico nas famílias. O imediatismo social dominante limita a capacidade de esperar e de resistir à frustração. 
A ansiedade vem antes da depressão 
e é um fator de risco para esta.

O que faz com que haja jovens que se sintam menos bem na escola, chegando mesmo a vomitar?

Vomitar pode traduzir uma fobia escolar ligada à angústia da separação ou ao excesso de exigência e à pressão para o sucesso. Muitas vezes, os adultos exigem em vez de ajudarem. Por exemplo, quando divulgam nas redes sociais o facto de o filho estar no quadro de honra... A intenção até pode ser boa, mas a comparação social cria sensações de incapacidade.

A adolescência não é uma doença. 
Há alguma coisa que está 
a escapar aos adultos?

O pior que se pode dizer a um adolescente aflito é: “Tu sabes, tu consegues.” Isto agrava o problema, conduz a estados de desistência e de falta de esperança. Outros erros comuns: numa turma, castigar os malcomportados sem ter a sensibilidade de avaliar o impacto que isso tem sobre os perfeccionistas, que vão para as aulas com uma ansiedade horrível; pais que ficam ofendidos se os jovens preferem programas com amigos às saídas com eles.

Que fatores contribuem 
para uma adolescência tranquila?

A partilha familiar, que é um fator protetor por excelência, mas existe pouco, 
e ter abertura para aceitar os deslizes e a experimentação dos miúdos. Imagine que o vê a fumar – mas é fumador, está em risco ou só a experimentar? Os pais também não devem ficar sentidos perante os primeiros sinais de autonomia dos filhos, o que é saudável. Quando os vossos filhos se queixam, levem-nos a sério. Evitem que meros mal-entendidos se tornem conflitos enormes. Saibam ouvir e respeitar para que eles não se sintam incompreendidos e cresçam com chão e esperança.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Os adolescentes multifunções, por Eduardo Sá

Texto de Eduardo Sá, publicado no seu blogue.

Photo by Erik Lucatero on Unsplash

Os adolescentes multifunções


Aliás, nada lhes resiste.

Eu acho graça - reconheço - aos “adolescentes multifunções”. Aqueles que só conseguem estudar enquanto ouvem música. Com “phones”, de preferência, para que a qualidade do som “bata” um pouco  melhor na cabeça. E que colocam o telemóvel numa espécie de espreguiçadeira, bem ao lado do manual sobre o qual se debruçam, e saltitam - vigilantes - entre um parágrafo e outro, e uma mensagem acabada de chegar (que, entretanto, se intrometeu entre o livro e o seu olhar). E param e respondem-lhe. E retomam o estudo. E param “por um minuto” mais, só para darem uma espreitadela no WhatsApp. E sublinham, logo a seguir, cheios de motivação e com primor, num tom berrante ou fluorescente, uma próxima frase. E param. Porque alguém através do Instagram, acaba de partilhar uma story divertida. E, à cautela, carregam no estudo e nos sublinhados e vão, logo a seguir, dos sublinhados aos resumos - geralmente, longos e minuciosos - para que não haja como um qualquer pormenor daquilo que se “estudou” lhes possa fugir. E param. Porque alguém lhes manda um toque e mensagem. E liga, a seguir, e cochicha, por breves segundos (porque aqui não há cedências quando se trabalha...), sobre uma coscuvilhice “fundamental” para a formação duma pessoa. E, depois de, primorosamente, elaborado - a duas cores! - sublinham quase todo o resumo. Mas, param, logo depois. Para trocarem de música. Ou para “darem um saltinho” até ao YouTube. Riem-se, como não podia deixar de ser, com uns tipos que “são uns palhaços”. Claro! Mas estudar cansa, não há como negá-lo. E param. Para lanchar. E para reporem a glicose e para respirarem. E para darem ao oxigénio um novo furor que ponha a cabeça a trabalhar. No entretanto, passam os dedos pelo telefone e sintonizam-se com uma série. E, ficam “agarrados” a ela. Mas vêem “só” um episódio. Só um. E os primeiros segundos aquele que vem a seguir, vá lá, depois da respectiva contagem decrescente, evidentemente. E, quando dão conta - upps!.... - reparam que não só já viram o segundo como, sem que percebam porque,  já vão a meio do terceiro. Mas porque uma pessoa é de partilhar, trocam “duas mensagens” sobre um dos protagonistas ou sobre a reviravolta, imprevisível até para os corações mais respaldados, na história, que os torna vibrantes e “remexidos”, por dentro. E voltam ao resumo. E trincam o pão que, entretanto, resistiu aos últimos desenvolvimentos da série, até porque o lanche tem um ritual que faz com que não consigam estar atentos a uma história, beber um gole de leite, trincar e mastigar. Tudo, mas tudo ao mesmo tempo. E olham para o relógio e (Oh!) Sao horas de ir ao ginásio. Deixam as coisas desarrumadas e o pão que sobrou, capitulado, junto ao copo, vazio, no chão, primorosamente aconchegado ao pé da mesa da sala. Para arrumar, evidentemente. Mas só mais tarde. Depois do Pilates. Entretanto, entre o Snapchat, o Spotify e mais meia dúzia de músicas, volta-se a casa. Fresco! E tem-se a mãe à espera, esganiçada, porque, entretanto, alguém “chutou para golo” na caneca do leite e o gato comeu o pão. E quando uma tarde de trabalho parecia perfeita e tinha, até, rendido, uma pessoa acaba a fantasiar que há mais menopausas precoces do que pode parecer. Entretanto, porque é mesmo assim, uma pessoa barrica-se no quarto. E, quando chega a hora do jantar, o clima já não é “só paz e amor”. E, para estragar tudo, há sempre um dos “suspeitos” do costume que, qual ingénuo, pergunta: “Olha lá, tu estudaste?...” E, quando chega a altura de se pespegar o resumo debaixo do nariz de um incauto dos pais, uma pessoa quase desfalece com tanta ira. E só murmura. E tudo fica  entre um “murro no estômago” e o indigesto. A,  seguir, sente-se quase obrigada, porque se “toca”, a um “recuo estratégico” até ao quarto (sem se passar, sequer, pelo sofá). E o “power” duma tarde de estudo quase parece perder todo o gás. Só por isso, claro - o que mais podia ser?... - quase como “uma coisa má” passa pela cabeça, aquilo que quase se podia jurar que estava aprendido parece “varrer-se” da cabeça e zás: quem é que sente motivação para o estudo depois duma coisa destas?... E assim, quando tudo dava a entender que a tarde de estudo tinha servido, também, para calar “algumas pessoas” e tinha sido para valer, chega-se, de uma maneira “aziada” e muito pouco na “descontra”, a um jeito meio desconsolado de terminar o dia. A vida, com tanto estudo  - há quem não creia... - é muito cansativa!

Alguns canais do Youtube bons para professores

Artigo publicado no site Educatorstechnology em 4 de abril de 2018.


Clique AQUI para aceder à lista de canais mencionados acima.



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