quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

As redes sociais estão a mudar o nosso cérebro?

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Artigo de Joana Capucho para o Diário de Notícias, publicado em 8 de dezembro de 2018.


Um «gosto» no Facebook, um comentário no Instagram, um tweet ou um snap novo. Quantas vezes por dia para o que está a fazer para abrir notificações das redes sociais? Quanto tempo passa a fazer scroll? Já pensou nos efeitos que isso pode ter no cérebro? Há quem diga que está a acontecer com as redes sociais o mesmo que aconteceu com o tabaco: só daqui a largos anos se saberá exatamente que implicações têm. Mas já existem algumas pistas.


Sejkko é o nome artístico do cientista Manuel Pita no Instagram, onde reúne perto de 300 mil seguidores de todo o mundo. Com fotografias de «casas solitárias» e paisagens, o doutorado em Inteligência Artificial e Ciências Cognitivas já conquistou a atenção de publicações como a Wired, o The Telegraph ou o HuffPost.

Dessa atividade intensa no Instagram nasceu parte do seu fascínio pelas «dinâmicas das redes complexas», área na qual prosseguiu a sua investigação no pós-doutoramento. Desde que criou a conta, há seis anos, Manuel tem vindo a questionar-se sobre a utilização das redes sociais, o que o fez mudar a sua forma de estar nestas plataformas.

«Antigamente, qualquer momento podia ser um momento para desbloquear o telemóvel e ver quantos likes mais tinham entrado em algum post, ou para publicar uma foto». Atualmente, Manuel vai ao telemóvel em momentos específicos e predeterminados do dia, e publica conteúdos apenas duas vezes por semana. «Fui o meu próprio sujeito experimental nos efeitos dos ciclos de dopamina [neurotransmissor associado ao bem-estar e ao prazer] no meu sistema. E aprendi a valorizar muito mais a minha capacidade de me focar numa coisa ou, no máximo, duas, por dia”.

Marco André, de 40 anos, não é cientista nem está por dentro dos efeitos que as redes sociais podem ter no cérebro, mas também sentiu que tinha de alterar a forma como usava estas plataformas. «Estava sempre a fazer scroll, a ver opiniões de pessoas que achava medíocres, posições radicais, fake news. Um exemplo: antes de saber que o Bolsonaro era candidato à presidência do Brasil, já tinha visto a política de armamento dele nos vídeos automáticos do Facebook. É selvagem o que está a acontecer. Nós somos humanos, curiosos. Sinto que perdia imenso tempo a pensar em coisas que não diziam respeito à minha realidade».

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