segunda-feira, 22 de abril de 2019

Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) - Dê a sua opinião!

 "É hoje cada vez mais valorizada a necessidade de ouvir os jovens para promover a democracia, ainda que pouco tenha sido feito para ouvir os que vão sofrer o maior impacto pelo RGDP. E ouvir os pais que devem orientar os seus filhos da maneira que considerem mais adequada."
Dê a sua opinião acerca do RGPD e do consentimento parental para as crianças acederem aos serviços da sociedade de informação .




O que andam os seus filhos a fazer online e os riscos que correm

 Publicado em Visão, 20 de abril de 2019

 Talvez ainda não tenha ouvido falar da TikTok, da Tellonym ou da YouClap, mas estas são algumas das aplicações preferidas dos adolescentes. Partilhar vídeos caseiros, enviar mensagens anónimas, superar desafios lançados pelos amigos… 

                                                                   Getty Images

Noutros tempos, passavam-se bilhetinhos, sem assinatura, de mão em mão, na sala de aula. Atualmente, existem apps de envio de conteúdos anónimos. São habitualmente usadas para fazer as mesmas perguntas mais ou menos inocentes de antigamente, mas agora é muito mais fácil difundir a mensagem e muito mais difícil ser apanhado, se a opção for insultar um colega. O cyberbullying é apenas um dos vários perigos que se escondem nas apetecíveis apps. Saberão os adolescentes portugueses defender-se deles?
Aos 17 anos, Catarina Semedo Oliveira já é perita em segurança online. Faz parte dos Líderes Digitais, uma iniciativa da SeguraNet, com o patrocínio da Direção-Geral da Educação. A reputação de especialista faz com que os amigos lhe peçam ajuda com frequência. “Normalmente, o problema é terem começado a falar com um desconhecido que, depois, propõe um encontro, e então ficam com medo”, revela.
Daniel Cardoso, docente de Ciências da Comunicação nas universidades Nova e Lusófona, procura tranquilizar os pais: “A esmagadora maioria dos jovens que se encontram pessoalmente com desconhecidos depara-se com pessoas da sua idade. É muito raro darem de caras com adultos, mas essa preocupação é compreensível.” Hoje em dia, já não terá grande eficácia dizer simplesmente para não falarem com estranhos. “É uma mera proibição, não incute espírito crítico, o importante é capacitá-los para lidarem com as situações”, defende o investigador. “Se é inevitável que vão ter com estranhos, então o melhor é dizer-lhes para agendarem o encontro num local público, levarem um amigo e avisarem mais alguém da situação”, sugere. “É importante manter um canal de comunicação aberto que seja compreensivo e não proibitivo”, remata.
Catarina Semedo Oliveira conhece vários casos de jovens que se viram numa encruzilhada: “Quando alguma coisa correu mal, não eram capazes de falar com os pais porque sentiam que tinham traído a sua confiança ao não respeitarem as proibições.”
A psicóloga clínica Ivone Patrão é apologista de uma supervisão baseada na partilha desde o jardim-escola. “Se só começarem a falar destas questões quando os filhos tiverem 16 anos, os pais terão muito mais dificuldade em alterar comportamentos.” E lembra que é fundamental respeitar a privacidade dos adolescentes: “Se a sensibilização tiver sido feita ao longo da infância, as regras estarão incutidas e os jovens saberão lidar com as situações que aparecerem.” A VISÃO foi em busca das apps mais populares entre os adolescentes para que pais e filhos saibam lidar com os vícios e as virtudes das redes.

1. TikTok
recomendado a partir dos 16 anos

Cantigas de amigo
Esta aplicação chinesa de partilha de vídeos tem mais de 150 milhões de utilizadores. O seu maior sucesso são os vídeos de adolescentes a cantarem ou a fazerem playback – uma das funcionalidades mais apetecidas são os duetos com outros utilizadores
Alertas: O jornal britânico The Guardian noticiou que foram descobertos vários casos de adultos que solicitavam imagens de nudez a menores através da app. Mesmo entre os jovens, a partilha de conteúdos sexuais explícitos, os chamados nudes, tem-se tornado cada vez mais comum. A psicóloga Ivone Patrão aconselha os pais a lembrarem os filhos de que estão permanentemente a construir a sua identidade digital, mesmo quando partilham conteúdos em privado. “Uma vez na internet, para sempre na internet. Será que gostaria que daqui a dez anos vissem o que publiquei hoje?”, interroga-se, aos 17 anos, Catarina Semedo Oliveira. Na TikTok, só depois de somar mil seguidores é possível fazer vídeos em direto, um incentivo para aceitar toda a gente.
Conselhos de segurança: A aplicação tem uma secção exclusiva para menores de 13 anos, na qual só é possível ver vídeos previamente aprovados e não é permitido partilhar conteúdos, mas basta alterar a data de nascimento para ter acesso a todas as funcionalidades. O modo restrito permite filtrar conteúdo inapropriado e é possível limitar as mensagens privadas a amigos.
37% dos jovens viram imagens de cariz sexual na internet ou noutro local no último ano (em 91% dos casos, as imagens foram vistas em dispositivos com acesso à internet). Oito por cento sentiram muito incómodo perante o que viram, 11% sentiram algum ou bastante incómodo

2. Twitch
recomendado a partir dos 15 anos

Espectadores da internet
Propriedade da Amazon, é uma das campeãs do streaming de vídeos de pessoas a jogarem videojogos
Alertas: É comum a interação com desconhecidos nas salas de conversação, o que pode potenciar o contacto com pessoas mal-intencionadas. Muitas vezes, os gamers estão expostos ao discurso de ódio nestas plataformas. Os utilizadores são incentivados a premiarem os seus jogadores favoritos comprando Bits, apesar de a app ser gratuita. São muitas as aplicações grátis que solicitam os dados do cartão de crédito. O pedido não é inocente. Existem compras integradas que só se revelam com a utilização e a compra fica de antemão facilitada.
Conselhos de segurança: Existe a opção de bloquear os convites para conversas privadas. Nas definições, é importante desativar a opção que permite a partilha da atividade do espectador, sem a sua autorização.
16% ou seja, uma em cada seis crianças e adolescentes vítimas de ciberbullying teve de fazer coisas que não queria fazer

3. Tellonym
recomendado a partir dos 17 anos

(Des)Protegidos pelo anonimato
Esta app permite enviar mensagens escritas anónimas para outros utilizadores. É possível associar-lhes fotografias ou vídeos
Alertas: Não é preciso estar registado para usar a aplicação, o que facilita os comportamentos de ciberbullying ou o envio de conteúdos inapropriados, por exemplo os sexualmente explícitos. Outra aplicação de troca de mensagens anónimas, a Kik, foi referenciada nas investigações de mais de mil casos de abuso sexual, nos últimos cinco anos, no Reino Unido. “Este tipo de aplicações é muito usado para fazermos perguntas ingénuas como ‘gostas desta ou daquela pessoa?’, mas também pode facilitar o contacto com desconhecidos que peçam dados pessoais ou contribuam para o discurso de ódio e para o bullying”, reconhece Catarina Semedo Oliveira, embaixadora europeia jovem para a segurança na internet, que insta todos os internautas a não compactuarem com o ciberbullying. “Não devemos pôr ‘gosto’ e muito menos comentar. Devemos relatar o que vemos, fazer uma captura de ecrã e mostrar aos pais ou aos professores.”
Conselhos de segurança: É possível bloquear preventivamente as mensagens dos utilizadores não registados. Os remetentes de conteúdos indesejados também podem ser bloqueados. Outra opção é filtrar determinadas palavras, evitando que as mensagens que as contenham cheguem ao destinatário. Sempre que uma app não precise da câmara ou do microfone para funcionar, essas permissões devem ser negadas.
24% dos inquiridos entre os 9 e os 17 anos confessaram ter sido vítimas de bullying online e offline no último ano. A forma de ciberbullying mais incomodativa são as “mensagens desagradáveis”, consideram quase dois terços

4. Facetune
recomendado a partir dos 13 anos

Cirurgias estéticas digitais
Mais do que editar fotografias, esta app permite alterar a aparência da pessoa fotografada. Aumentar os olhos, diminuir o nariz, remover as imperfeições da pele ou estreitar a cintura são algumas das funcionalidades
Alertas: A alteração das selfies de forma a corresponderem à imagem que gostariam de ter pode contribuir para o isolamento digital, destruindo a autoestima dos adolescentes. “Nas redes sociais, há tempo para tirar uma fotografia e melhorar a aparência, o que não é possível no convívio presencial, isso pode causar ansiedade e afetar a autoestima dos jovens mais vulneráveis, levando-os a evitar o contacto face a face”, nota a psicóloga Ivone Patrão. “Quando um jovem se foca apenas na construção da sua imagem, de forma a agradar aos outros, há um sofrimento atroz por detrás. Terá de haver outros sinais de que não está bem”, alerta a docente do ISPA.
Conselhos de segurança: Estar atento aos sinais que possam denunciar uma baixa autoestima. Lembrar que o investimento pessoal não deve reduzir-se à imagem e alertar para o facto de tudo o que é partilhado nas redes ser altamente encenado.
28% dos jovens entre os 11 e os 17 anos receberam mensagens sexuais explícitas no ano passado; em 2014, esse valor não ia além dos 5%. São, sobretudo, os adolescentes entre os 15 e os 17 anos quem mais as recebe

5. Houseparty
recomendado a partir dos 13 anos

Fazer a festa no ecrã
Com mais de 20 milhões de utilizadores – 60% na faixa etária entre os 16 e os 24 anos –, a principal atração desta aplicação são as chamadas de vídeo em grupo
Alertas: Só podem ser adicionadas pessoas que já façam parte das redes sociais ou dos contactos do telefone do utilizador. No entanto, é possível encontrar outros usuários nas proximidades, se o localizador do telefone estiver ligado. As salas de conversação estão abertas por defeito, mas surge um alerta “stranger danger” sempre que um desconhecido, como um amigo de um amigo, entra no grupo. A jovem líder digital Catarina Semedo Oliveira deixa uma advertência: “Não devemos achar que qualquer pessoa com quem temos amigos em comum é de confiança.”
A transmissão em direto aumenta o risco de serem difundidos conteúdos inapropriados impossíveis de serem controlados.
Conselhos de segurança: O ideal é desligar o localizador do telefone para evitar ser contactado por desconhecidos que estejam a utilizar a aplicação na mesma zona geográfica. Também é possível trancar as salas de conversação, impedindo qualquer pessoa de entrar sem ser convidada, basta acionar o modo privado nas definições.

33% dos jovens portugueses entre os 9 e os 17 anos que tiveram experiências negativas na internet ignoraram ou esperaram que o problema desaparecesse. Outro terço decidiu bloquear a pessoa 
que o incomodou

6. Yubo
recomendado a partir dos 18 anos

Amores virtuais
É conhecida como o “Tinder dos adolescentes”, mas é apresentada como uma aplicação para “fazer novos amigos”. Deteta os utilizadores geograficamente mais próximos
Alertas: É necessário revelar a localização do dispositivo para a app funcionar devidamente. O perfil pode ser visto por todos os utilizadores geograficamente próximos e, quando há um match, podem manter-se conversas privadas e, até, partilhar vídeos. A jovem embaixadora digital Catarina Semedo Oliveira recomenda precaução: “Quando começamos a falar com alguém, temos de pensar bem em tudo o que dizemos e partilhamos. É mais fácil sermos enganados se o outro souber muito sobre nós.” A informação revelada online deve ser limitada ao mínimo, mesmo aquela que é teoricamente partilhada em privado. Dados pessoais, como o número de telefone, a morada de casa ou a escola que se frequenta, devem ser sigilosos. Em relação aos encontros presenciais, é perentória: “É sempre preferível jogar pelo seguro. Podemos conhecer pessoas novas na escola, não precisamos de passar pela internet.”
Conselhos de segurança: É possível desativar a localização e a opção de fazer match, mas os perfis mantêm-se sempre públicos. Os utilizadores menores de idade só podem contactar com pessoas da mesma faixa etária, mas basta inserir uma data de nascimento falsa para contornar o sistema, o que torna a segurança muito limitada.
44% das crianças e dos jovens portugueses confessaram ter-se encontrado presencialmente com pessoas que conheceram na internet – um comportamento mais comum entre os 13 e os 17 anos. A esmagadora maioria (79%) ficou contente após os encontros. Mais de metade (53%) admite contactar com desconhecidos na internet

7. YouClap
recomendado a partir dos 16 anos

Desafios a toda a prova
Esta app portuguesa, criada pelo engenheiro informático José Rocha, formado na Universidade de Aveiro, permite aos utilizadores lançar desafios (a todos os outros seguidores, a alguns ou apenas a um). Fazer a melhor coreografia de uma canção, contar a piada mais seca ou, simplesmente, fotografar o jantar, as possibilidades são infinitas. Um terço dos seus cerca de 50 mil utilizadores tem entre 14 e 18 anos
Alertas: Existe o risco de serem lançados desafios perigosos – como já aconteceu noutras aplicações, por exemplo, com a Baleia Azul (que culminava com uma tentativa de suicídio). Todas as contas são públicas para todos os utilizadores.
Conselhos de segurança: Os programadores eliminam constantemente conteúdos ofensivos, mas são os utilizadores que denunciam 70% a 80% dos casos – é importante estar familiarizado com esta função. Em breve, será possível tornar as contas privadas, mas também será inaugurada a função de conversação.
46% dos jovens entre os 11 e os 17 anos viram imagens nojentas ou violentas contra pessoas e animais no último ano. Praticamente o mesmo número (45%) deparou com informação sobre automutilação e 43% estiveram expostos a discurso de ódio (em função da cor da pele, da religião, da nacionalidade ou da orientação sexual)
Fonte: Estatísticas retiradas do inquérito EU Kids Online 2019, sobre o comportamento dos jovens portugueses, entre os 9 e os 17 anos, em contexto digital.

As apps que os pais também usam

Além dos adolescentes, também os mais velhos são utilizadores destas aplicações, mas nem por isso se devem descurar os seus perigos
Snapchat
É muito utilizado no contexto de sexting (envio de conteúdos sexualmente explícitos), uma vez que tem a particularidade de as mensagens supostamente desaparecerem ao fim de pouco tempo. Pura ilusão, já que é possível fazer capturas de ecrã, comprar replays e salvar conteúdos do Snapchat recorrendo a aplicações específicas para o efeito. Convém desativar a localização.
Instagram
Tudo começou com a partilha de fotografias mas, agora, esta rede social tem muito mais que se lhe diga. Com a função IGTV, os utilizadores podem subscrever os canais de vídeo uns dos outros. Além disso, é possível fazer transmissões em direto e trocar mensagens escritas, vídeos ou áudio em privado com outros utilizadores. Uma das principais opções para tornar a app mais segura é tornar a conta privada. Podem bloquear-se seguidores indesejados e limitar os comentários ou filtrar palavras e emojis ofensivos.
WhatsApp
Além das mensagens escritas, o WhatsApp permite a partilha de fotos, vídeos e áudio. Podem bloquear-se contactos guardados ou desconhecidos (mas não números anónimos) e é possível tornar a conta privada nas definições, de forma a que só os contactos (ou mesmo ninguém) consigam ver se está online. A função mais preocupante é a partilha da localização do utilizador, mas é possível desligá-la.
YouTube
O sucesso dos youtubers ajudou a transformar este repositório de vídeos numa rede social. Para terem sucesso, os seus vídeos precisam de ser também comentados. A investigadora Ana Jorge, que tem estudado a relação dos mais novos com os meios de comunicação, alerta para a importância de lhes despertar o sentido crítico: “É fundamental desconstruir o que fazem os youtubers explicando, por exemplo, que as suas recomendações são pagas pelas marcas.”

terça-feira, 9 de abril de 2019

Recursos para os pais sobre o mundo dos videojogos

 Publicado pelo Projeto internetsegura.pt em 21-12-2018

Consulte o artigo completo AQUI.


O mundo dos videojogos tem crescido de forma rápida e paralela ao desenvolvimento das novas tecnologias: das antigas consolas de videojogos que se ligavam à televisão, passámos pela era das consolas portáteis que se ligam à Internet e atualmente são criados vários ambientes de realidade virtual que permitem o jogador interagir com ambientes de 360º.

O Gaming, é o conceito que corresponde à atividade lúdica de jogar videojogos, podendo ser realizado em contexto online ou offline. Estas atividades comportam benefícios quando praticadas de forma equilibrada, mas também oferecem riscos que devem ser acautelados pelos jogadores e reconhecidos pelos pais e educadores.

Como tal, a Federação Portuguesa do Desporto Eletrónico (FEPODELE) associou-se ao Centro Internet Segura para lançar um Guia para Pais e um Dicionário de um Gamer, com o objetivo de facilitar a comunicação e o relacionamento entre jogadores e utilizadores que ainda não estão familiarizados com a temática dos videojogos.

Descarregue já, de forma gratuita, ambos os recursos disponíveis na Área de Recursos (Flyers) do nosso website.
                                                                                                                                                                                
Navegue em Segurança!

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Aplicação TikTok deixa crianças expostas a predadores sexuais

Uma investigação revelou centenas de mensagens de cariz sexual.

 Notícia de 5 de abril  de 2019 na SIC Notícias
                                          Danish Siddiqui


A aplicação de vídeo TikTok está a ser acusada de falhar em proteger crianças que estão a receber mensagens de cariz sexual. Uma investigação da BBC revelou centenas de casos.
São muitos os comentários explícitos que chegam a ser publicados em contas de crianças com apenas nove anos. Apesar da maioria ser apagada pela aplicação quando são reportados pelos utilizadores, os seus autores não são banidos da plataforma, apesar dos regulamentos desta proibirem expressamente estes comportamentos.
A TikTok é uma aplicação que permite a publicação de pequenos vídeos. Tornou-se particularmente popular entre jovens, que a utilizam para gravar vídeos a cantar e dançar, a contar piadas ou a completar desafios. Terá mais de 500 milhões de utilizadores ativos por mês em todo mundo.

Centenas de mensagens e comentários explícitos

BBC/TikTok
Durante três meses, a BBC reportou centenas de comentários que encontrou em vídeos de menores de idade. As denúncias foram feitas através das ferramentas disponibilizadas pela aplicação ao utilizador comum. Apesar da grande parte dos comentários ter sido removida em 24 horas, houve muitos que continuaram públicos e as contas ativas.
Segundo o regulamento, são proibidos quaisquer “publicações ou mensagens privadas que assediem utilizadores menores” e que se a empresa tiver “conhecimento de conteúdo que explore sexualmente ou coloque em perigo crianças (…) alertará as autoridades”.
Para além das mensagens de cariz sexual, há também denúncias de conteúdo misógino, racista, homofóbico e antissemita.
BBC/TikTok

O perigo à espreita

BBC/TikTok
“Estas pessoas estão a usar estas plataformas para ganhar acesso a crianças”, explicou a comissária inglesa para os direitos das crianças, Anne Longfield. Enquanto muitos destes predadores utilizam perfis anónimos, outros não escondem nomes e fotografias reais.
Contactado pela BBC, o pai de uma criança de 10 anos revela que apagou a aplicação do telemóvel do filho depois de ter descoberto mensagens de um homem adulto.
“As mensagens, que continham asneiras, diziam ‘não me ignores’, 'sei quem és e vou-te buscar’ (…) Se o meu filho tivesse respondido, o que podia ter acontecido a seguir? (…) É nojento, a TikTok tem uma responsabilidade agora e se as pessoas estão a receber mensagens como estas, deviam pelo menos contactar as autoridades”.
Entretanto, a plataforma emitiu um comunicado onde garante estar “comprometida em aprimorar as medidas existentes e introduzir processos técnicos e de moderação adicionais”.

terça-feira, 2 de abril de 2019

Sabe o que o seu filho, tipo, anda a ver, tipo, no YouTube?

"Preferias comer cocó com sabor a chocolate ou comer chocolate com sabor a cocó?"


Publicado na Sábado em 31 de março de 2019.


Para ler o artigo na íntegra, clique AQUI.

Estamos a passar os dez minutos de um vídeo de SirKazzio, o youtuber português com mais seguidores (uns impressionantes 5,1 milhões – muitos são brasileiros). Quem faz a pergunta do cocó é David Carreira, cantor pop e filho de Tony Carreira, e os dois estão sentados num sofá em casa do youtuber. A ideia é tirar à vez uns papelinhos que estão numa caneca. Em cada papelinho estão perguntas como a do cocó e, para sorte de David Carreira, quem tem de responder é SirKazzio.
Para tornar a coisa ainda mais difícil, David Carreira diz que o chocolate, além de saber a cocó, deve também "cheirar a cocó", mas depois troca-se um pouco a falar, o que é motivo para uma boa risada, porque "entre cocó e chocolate, uma pessoa fica baralhada...", e SirKazzio responde finalmente que prefere comer cocó com sabor a chocolate. "Mas tem cheiro a cocó", lembra David Carreira. "Tapo o nariz...", responde o outro.
Nos comentários ao vídeo (que tem como título Preferias Andar Nu Na Rua?! Com David Carreira), praticamente só se veem – a avaliar pelas fotos de perfil – crianças e adolescentes, muitos ainda com dificuldades a Língua Portuguesa (exemplo: "És só tu que eu ouso as tuas musicas").

É um fenómeno transversal a estes canais de YouTube, quase tanto como a aparição do próprio David Carreira neles. Só em 2018, e de forma involuntária e inesperada, encontrámo-lo em 14 vídeos de youtubers (incluindo dois brasileiros: Luiz Mariz e Gioh) - o que indicia uma estratégia de posicionamento do cantor de 27 anos no mercado escolar EB 2/3.

Ei-lo, por exemplo, em Na Cama com David Carreira (youtuber Helena Coelho), Em Madrid com o David Carreira e Lap Dance ao David Carreira (ambos com Olivia Ortiz), Entrei no Vídeoclipe do David Carreira (Angie Costa), O David Carreira Ensina Como Ficar Bem Nas Fotos (Beatriz Leonardo) ou Desafiei o David Carreira e Deu Nisto (Inês Ribeiro).

SirKazzio chama-se, na vida civil, Anthony Sousa. Tem 26 anos e o ligeiro sotaque advirá de ter nascido na Venezuela. O cabelo pintado de vermelho fluorescente segue as tendências deste target.

No essencial, do que foi possível ver, estes canais de maior sucesso assentam em quatro fórmulas:

1. Rubricas. Por exemplo, coisas que não sabe sobre. Ou vídeos engraçados do YouTube e vejam como eu reajo a vê-los. Ou perguntas de escolha obrigatória entre chocolate que sabe a cocó ou cocó que sabe a chocolate;
2. Jogos de computador;
3. Coisas que os adolescentes fazem quando estão juntos, como se estivessem em viagens de finalistas a Benidorm, mas tudo passado cá. Chamam-lhes trolladas.

A vertente 2, à primeira vista, parece a mais comum. É por isso que estes canais estão carregados de arrotos, puns, piretes, palavrões e aquilo a que chamam trolladas (as partidas que pregam uns aos outros).

São vídeos onde as pausas e as vírgulas continuam a existir, mas sobrevivem com três bengalas: o mano, o puto e o tipo. Exemplo: "Como é que é, puto, queres ir tipo lá a casa, tipo, jogar um jogo, mano?"
É um tique geracional. O youtuber RicFazeres – que só se dedica a jogos de computador à noite, de dia trabalha no Metropolitano de Lisboa – usa como bengalas velho e Zé. Não por acaso, está com 40 anos.

A vertente 3, a exposição da vida privada, pode causar alguma estranheza para quem não partilha desta ideologia de vida e de negócio.

Por exemplo, SirKazzio publicou a 9 de dezembro um vídeo intitulado O parto da nossa bebé - Emma. A mãe, acabada de o ser, aparece no quarto do hospital com a filha, acabada de nascer. Mas SirKazzio está furioso. O que queria mesmo publicar era o parto – que filmou, porque "vocês poderiam ver o nascimento dela e acho que seria uma cena linda" –, mas o YouTube não deve ter gostado de algum eventual conteúdo explícito e removeu as imagens.

SirKazzio estava triste, até porque, antes da remoção, o vídeo "estava a explodir em termos de visualizações e likes". Aparentemente, tudo isto parece apenas uma tontice, mas há um pouco mais do que isso.

A caça ao like e o Artigo 13
Uma das principais características destes canais de YouTube são os contínuos pedidos para os fãs porem likes, ou subscreverem o canal, ou fazerem comentários ou partilhas em todas as redes sociais que puderem e conseguirem.

É uma ladainha insistente em cada vídeo. A razão, que nunca é revelada nestes termos, é simples: os youtubers recebem dinheiro em função do tráfego online dos seus vídeos, como visualizações e likes. Quanto mais "envolvimento" o vídeo tiver, mais anúncios pode receber e mais caros eles podem ser.

Desde 2013 que é possível, em Portugal, ganhar dinheiro com publicidade no YouTube, e desde 2017 que é imposto um limite mínimo de 10 mil visualizações para um vídeo poder ter publicidade.

É comum ouvir um youtuber lançar desafios como "se na próxima meia hora eu tiver 1.000 likes faço isto ou aquilo". O que pode parecer um inocente pedido de apoio moral ou a promessa de uma nova brincadeira divertida – quem sabe mais uma trollada no mano que está agora na casa-de-banho a fazer cocó, puto –, mais não é do que alguém a fazer negócio.

Quando SirKazzio lamentou, desolado, a censura do YouTube ao parto da sua filha na altura em que o vídeo "estava a explodir em termos de visualizações e likes", lamentava-se provavelmente da perda de um bom negócio.
Veja-se como SirKazzio termina o vídeo do cocó com David Carreira: "Deixem o vosso like, não se esqueçam de partilhar o vídeo por todas as vossas redes sociais, que isso ajuda bastante, em qualquer rede social serve, até pelo WhatsApp, já sabem como é que funciona, é só partilharem o link para pessoas que não conheçam o canal, assim chegam sempre pessoas novas ao canal. E comentem muito."Por exemplo, no final deste vídeo o youtuber Wuant pede 150 mil likes e em troca faz "mais cenas destas".Dito de outro modo, por trás de um youtuber a fazer conteúdos patetas, está na verdade um profissional liberal a fazer pela vida.

Quando vários youtubers vieram há poucas semanas anunciar "o fim da Internet como a conhecemos", o fim do YouTube na Europa, mais o fim da liberdade de expressão e o fim da criatividade, etc, etc – tudo devido ao famigerado Artigo 13 aprovado no Parlamento Europeu, que pretende trazer para a Internet alguma da legalidade que existe na vida civil, neste caso sobre direitos de autor –, estavam na verdade a ver no horizonte o hipotético fim dos seus negócios. Em alguns casos o único meio de subsistência.

O famoso youtuber Wuant fez um vídeo (apocalipticamente intitulado O Meu Canal Vai Ser Apagado) para perguntar "se a nossa geração está preparada para sofrer uma cena assim? Nós não estamos prontos para lidar com o desaparecimento disto tudo. A nossa vida depende da Internet".
(...) trollada das mulheresA presença feminina neste campeonato é, regra geral, menos adepta da trollada e mais ligada aos cuidados de beleza e lifestyle. Uma das mais famosas é SofiaBBeauty (264 mil seguidores), que começou em 2012 com 12 anos. Hoje com 17 anos, mantém o seu canal civilizado e limpo de cocós. O sucesso arrasta-se ao Instagram (288 mil seguidores), com consequente apelo das marcas.

Mais próximo da trollada masculina estão as duas mulheres mais seguidas no YouTube em Portugal: Owhana (434 mil seguidores e SEA 3P0 (797 mil seguidores).
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